O BULLYING E O SUICÍDIO – O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO FRENTE A ESTE MAL
O suicídio na juventude intriga médicos, pais e professores também pelo paradoxo que representa: o sofrimento num período da vida associado a descobertas, alegrias e amizades, não a tristezas e morte.
O tema foi debatido numa roda de conversa organizada pelo Centro Acadêmico Sir Alexander Fleming (Casaf), do curso de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com a presença de estudantes e professores.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o problema é normalmente associado a fatores como depressão, abuso de drogas e álcool, além das chamadas questões interpessoais – violência sexual, abusos, violência doméstica e bullying.
A cientista política Dayse Miranda, coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção da UERJ, participou do debate e destacou os relatos dos estudantes.
“Fiquei impressionada como os alunos falaram de sofrimento, seja deles, seja a dificuldade para lidar com o sofrimento de outros jovens, além do uso excessivo de medicamentos, que eles naturalizam”, afirma.
Ambiente Escolar
Psiquiatra da infância e da adolescência e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Carlos Estelita estuda a interface entre o suicídio e outros fenômenos violentos – desde famílias que vivem em comunidades urbanas tomadas por tiroteios e vivem o estresse diário dos confrontos até jovens indígenas que se sentem rejeitados tanto por suas tribos como por grupos brancos.
O bullying no ambiente escolar é citado por ele como um dos principais elementos associados ao suicídio. “Pessoas que seguem qualquer padrão considerado pela maioria da sociedade como desviante, seja o tênis diferente, a cor da pele, o peso, o cabelo ou a orientação de gênero, são hostilizadas continuamente e entram em sofrimento psíquico”, afirma Estelita, professor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, ligado à Fiocruz.
“Temos de alertar também para a transformação do modelo tradicional de família e para o fato de que a escola nem sempre consegue incluir esse jovem.”
Outra dificuldade é falar do assunto com jovens. Muitas vezes, estratégias que funcionam com adultos não têm o mesmo resultado quando usadas com adolescentes – e, entre as peculiaridades desse grupo, está a forma como usa a internet e as redes sociais.
A rede vem sendo palco para grupos que não só romantizam o suicídio, mas exortam jovens a cometê-lo, usando a falsa ideia do desafio. O psiquiatra sublinha a necessidade de uma política nacional de atendimento a urgências, pois, muitas vezes, os profissionais não sabem como lidar com casos de tentativas de suicídio.
A psicóloga Mariana Bteshe, professora da Uerj, diz que os pais devem estar atentos a qualquer mudança brusca no comportamento do jovem, como, por exemplo, um adolescente expansivo que, de repente, fica introspectivo, agressivo, tem insônia, dorme demais ou passa muito tempo no quarto.
Mais uma vez, o alerta especial vai para o uso da internet, e Bteshe lista, na contramão do jogo que incentivaria o suicídio, iniciativas que tentam combater a depressão e lançam desafios “do bem”, como o jogo da Baleia Rosa.
“Muitas vezes o jovem fica muito tempo na internet, e os pais não sabem o que ele anda vendo ou com quem anda falando. É preciso que a família, mantendo a privacidade do jovem, busque uma forma de contato com ele e abra um espaço de diálogo”, afirma a psicóloga, que defendeu na Fiocruz uma tese de doutorado sobre suicídio.
Bteshe reitera que silenciar sobre suicídio não ajuda a combater o problema. Por muito tempo não se tratou abertamente do tema por medo do chamado “Efeito Werther” – a ideia de que falar do assunto poderia inspirar ondas de casos por imitação.
O nome vem do protagonista do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther , de Goethe, publicado em 1774, sobre um rapaz que se mata após um fracasso am oroso e cujo exemplo teria provocado outros suicídios de jovens.
Atualmente, diz Bteshe, psicóloga do Programa de Apoio Psicopedagógico ao Estudante da Faculdade de Medicina da UERJ, a diretriz da OMS é abordar o tema sem glamour, sem divulgar métodos e sem apontar o suicídio como solução para os problemas – agindo sem preconceito e oferecendo ajuda a quem precisa.
Fonte: https://www.google.com.br/amp/s/www.bbc.com/portuguese/amp/brasil-39672513