APARELHOS ELETRÔNICOS E DESENVOLVIMENTO DA FALA
O uso de aparelhos eletrônicos por parte da criança tem sido um tema bastante explorado pela comunidade científica. De fato, a investigação diz-nos que apesar de a criança conseguir aprender conceitos em programas de televisão com uma componente educativa, a criança aprende mais e melhor, a partir das experiências no meio e das interações com os pares e os adultos.
USAR A TECNOLOGIA A PARTIR DE QUE IDADE?
A Academia Americana de Pediatria recomenda o não-visionamento de televisão, telemóvel, tablet e DVD em crianças com menos de 2 anos de idade. A partir desta idade, a recomendação é de 1 a 2 horas por dia.
Sendo a favor desta recomendação, tenho também consciência do quão difícil é excluir todos os aparelhos eletrônicos que a era digital nos apresenta. Por conseguinte, há que saber utilizá-los com peso e medida e da forma mais apropriada para o desenvolvimento da criança, sobretudo no que respeita as competências ao nível da linguagem.
O IMPACTO DA TECNOLOGIA NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Estudos recentes sugerem que meios de comunicação interativos, tais como aplicações para aprender a ler e e-books, podem promover competências literárias, pelo contato precoce com letras, sons e reconhecimento de palavras.
Os e-books podem ser úteis para promover o desenvolvimento de vocabulário e a compreensão de leitura, desde que o design visual e os efeitos sonoros não sejam elementos detratores.
A investigação recomenda que os programas de televisão devam ser ajustados à idade da criança. Além disso, as personagens devem falar diretamente com a criança, solicitando-a a participar no programa de alguma forma, tal como dizendo ou repetindo uma palavra. Os programas de televisão que têm uma história com uma organização adequada, ou seja, início-meio-fim são também recomendados.
No entanto, a exposição da criança a programas de televisão, jogos e aplicações não é, por si só, sinônimo imediato de desenvolvimento de competências cognitivas e linguísticas. O mais importante é a interação criança-pai (ou criança-educador) que decorre (ou deve decorrer) durante o uso dos aparelhos eletrônicos.
INTERAÇÃO CRIANÇA-ADULTO E TECNOLOGIA: RECOMENDAÇÕES
Neste âmbito, a organização Zero to Three sugere um conjunto de estratégias para as famílias, no sentido de uma exploração mais rica e adequada de dispositivos eletrônicos com a criança, visando o desenvolvimento de competências linguísticas. São elas:
- FALAR COM A CRIANÇA ACERCA DO PROGRAMA DE TELEVISÃO: Perguntar à criança com 2 e 3 anos de idade sobre o que é que falava o programa, quais as personagens que a criança gostou e que não gostou, e como é que estas personagens a fizeram sentir.
- RESPONDER ÀS PERGUNTAS DA CRIANÇA: Depois de a criança ver o programa, pode necessitar da ajuda do adulto para perceber algum conceito, ideia ou acontecimento que surgiu no programa.
- APONTAR E/OU NOMEAR: Apontar e/ou nomear conceitos que a criança está a ver, à medida que as imagens aparecem.
- SER ATIVO: Ser ativo enquanto vê o programa com a criança: dançar ao som da música, imitar uma personagem, etc..
- RELACIONAR A ATIVIDADE COM ACONTECIMENTOS REAIS: Relacionar o que a criança está a ver na televisão com o seu dia-a-dia e vida real, como por exemplo: “Lembras-te de vermos um programa que mostrava o carteiro a entregar as cartas às pessoas? Este senhor aqui na nossa rua também é carteiro e coloca as cartas nas caixas do correio”.
- 6. REPRESENTAR E CRIAR HISTÓRIAS: Quando o programa terminar, o adulto pode desligar a televisão e representar a história que a criança viu, utilizando fantoches ou marionetas, por exemplo. Pode também inventar e representar uma nova história, construída por si e pela criança.